Conheça o método billings, que tem se tornado cada vez mais popular e ajuda mulheres a engravidar, mesmo após casos de fertilização sem sucesso. Com ele, também é possível evitar uma gestação indesejada, sem o uso de contraceptivo hormonal.
A tabelinha não é a única forma de mapear a fertilidade da mulher. Na década de 1950, um grupo de pesquisadores, liderados pelo médico John Billings, observou 850 mil análises hormonais e percebeu que era possível reconhecer o período fértil da mulher a partir do ápice da produção do hormônio estrógeno, responsável por formar um muco na cérvix, região que fica próxima ao colo do útero. No estudo, chamado de Método de Ovulação Billings (MOB), chegou-se à conclusão de que, se a mulher observar as diferentes texturas dessa secreção, ela poderia saber quando está no período fértil (veja tabela abaixo). Esse período, porém, pode variar de mulher para mulher, já que a maioria não tem ciclo regular.
Todos os meses, os ovários, o útero, as tubas uterinas e a vagina, órgãos que fazem parte do sistema reprodutor da mulher, atuam com um único objetivo: dar origem à vida. Juntos com os hormônios e o espermatozoide, eles têm funções específicas para formar o embrião. Tudo acontece com uma precisão incrível e no momento certo. Só para você ter uma ideia, depois de chegar a tuba uterina, o óvulo aguarda o espermatozoide por até 24 horas para, assim, fecundar. Se ele não chega, há uma descamação das paredes do endométrio, dando origem à menstruação, o que significa o fim do ciclo. A partir daí, começa tudo de novo. Embora o organismo emita sinais internos e externos de cada passo desse processo, a maioria das mulheres não percebe ou não sabe o que significam. O casal que quer engravidar recorre à contagem mecânica da tradicional tabelinha para acertar o período fértil. “Só que, muitas vezes, ela não resolve porque o corpo feminino é complexo e único. Como apenas 14% das mulheres têm um ciclo regular de 28 dias, a tabelinha é considerada um método pouco confiável”, diz o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli (SP).
Além disso, fatores externos, como a alimentação, o cigarro e, principalmente, o estresse, podem gerar períodos não ovulatórios e fazer a mulher ovular mais cedo ou mais tarde. E isso é bastante comum. “Tentei engravidar durante quatro anos até que descobri, por meio do ultrassom, que o problema era a data que fazia sexo. Estava escolhendo os dias errados”, conta Juliana Alves, 37 anos, mãe de Felipe, 3 meses.
No método Billings, a auto-observação é feita com a combinação de três formas. A primeira é a percepção da vagina, que pode estar seca, úmida (pouco líquido), molhada (bastante líquido) ou escorregadia. A segunda é por meio do muco que se apresenta na forma líquida, cremosa ou elástica. Mas, atenção! “Pode acontecer de não haver nenhum muco visível na vulva. Neste caso, é realizada somente a observação da sensação vulvar. Conforme a mulher caminha, ela tem uma sensação de seca, úmida, molhada ou escorregadia”, afirma a médica clínica geral Maristela Zoboli Pezzucchi, presidente da Confederação Nacional de Planejamento Natural da Família (Cenplaflam), órgão membro da Organização Mundial do Método de Ovulação Billings. E, a terceira maneira, é com a medição diária da temperatura corporal, que aumenta de meio a 1°C durante a ovulação.
As etapas do ciclo
Com as três observações (vagina, muco e temperatura) a mulher consegue saber se está ou não no período fértil. Quando a vagina está seca e a temperatura fica na faixa de 36°C, ela não corre o risco de engravidar. Geralmente, os dias inférteis são antes e após a menstruação. Mais ou menos seis dias depois do sangramento, ela já começa a notar a vagina úmida ou molhada, pode aparecer um líquido de consistência cremosa na calcinha e a temperatura corporal não muda. Nessa fase, é preciso tomar cuidado, pois é sinal de que o óvulo está prestes a ser liberado e, como o espermatozoide sobrevive cerca de 72 horas no organismo da mulher, é possível engravidar.
Em seguida, a mulher entra no período altamente fértil, quando a vagina fica bem escorregadia e sai uma secreção semelhante à clara de ovo, brilhante e bastante elástica. É possível pegar esse muco com as mãos e pinçar com o polegar e o indicador até esticar cerca de 5 cm. Nesse estado, ele protege e facilita o transporte do espermatozoide, além de alimentá-lo com proteínas e outras substâncias presentes nele. Com o aumento do estrógeno, a temperatura sobe para 36,5°C ou mais. Nesse dia, se a mulher tiver relação sexual, ela terá grande chance de engravidar. Afinal, o óvulo está lá à espera do espermatozoide.
O corpo fala: observe-se
No começo, pode parecer difícil observar tudo isso, mas, com o tempo, você ganha prática. Andrea Soares de Assis, 33 anos, mãe de Miguel, 6, e Lucas, 2, sabe, inclusive, o dia em que o óvulo é liberado. “Geralmente sinto uma fisgada de um lado da barriga”, conta. Thianna Andreoti Ferraressi, 36, mãe de Thaissa, 6, acredita que, com três ciclos, já dá para identificar o que acontece internamente. Ela usa a técnica há 19 anos porque já teve casos de trombose na família, causada pela pílula. “Acho o método bastante seguro, tanto como prevenção como para a concepção, desde que a mulher tenha clareza do que acontece com o corpo”, diz Thianna.
Para saber o período fértil, é indicado fazer um curso do MOB com instrutores espalhados por todo o Brasil e cadastrados no Cenplafam, com sede em São Paulo. Segundo a instrutora do Billings há 29 anos, Maria Luiza Monteiro, a maioria dos casais que a procura estão tentando ter filho.
Isso foi comprovado em um estudo publicado na Revista Brasileira de Enfermagem. A pesquisa mostra que a maioria das pessoas tem confiança no método, só que a aceitação é maior entre aquelas que desejam ser mães, em comparação com quem não quer ter filhos. Ana Paula Avante Ursini, 33 anos, mãe de Miguel, 1, procurou o MOB com esse objetivo. Ela tinha problemas de ovários policísticos, operou, mas não engravidava. Por meio de uma amiga, soube de uma pessoa “milagrosa” (a instrutora) que ajudava as mulheres a ter bebê. Depois de três anos de tentativa, decidiu optar pelo método, antes da fertilização. “Em menos de seis ciclos, engravidei”.
O tempo de espera de Carolina Coelho Martins, 39, mãe de Bento, 1, foi ainda maior. Depois de nove anos de tentativa, de seis inseminações artificiais e duas fertilizações, que não deram certo, ela engravidou com ajuda do MOB. Detalhe: em apenas dois meses! Ela tinha as trompas entupidas, fez cirurgia, mas o ginecologista dizia que era preciso tomar pílula porque a gravidez poderia ser ectópica (nas trompas). “Eu consultei uma instrutora do Billings e no primeiro mês, por meio do espermograma do meu marido, ela já descobriu que ele tinha baixa quantidade de espermatozoides. Ele fez o tratamento e em dois meses engravidei”, conta ela, que acredita que hoje existe uma indústria do anticoncepcional e da fertilização e, por dinheiro, os médicos até enganam as pacientes. “Gastei o equivalente a uma casa, e acabei realizando meu sonho só observando o meu corpo”, conta. Esse autoconhecimento também é importante para detectar quando há algo de errado. “Com o tempo, elas percebem se a secreção está normal ou se é hora de buscar um especialista para tratar problemas com a ovulação ou corrimento”, diz Maria Luiza.
Para quem não quer ter filhos
Um estudo feito sobre o MOB e reconhecido pela Organização Mundial da Saúde mostra que ele tem 97% de eficácia para evitar a gravidez. Para quem tem medo de engravidar, a ginecologista e obstetra Paola Fasano, do Hospital e Maternidade São Luiz (SP), indica a camisinha. “Nosso corpo é sábio e a libido aumenta no período fértil. Quem não quer correr nenhum risco, tem que se proteger”, afirma.